sábado, 4 de julho de 2009

Queremos uma festa do povo e com o povo!!!


A professora e coordenadora do Grupo de Produção Cultural do Instituto de Artes critica a contratação exclusiva de artistas de fora para o aniversário da cidade.

A contagem regressiva para os 50 anos de Brasília começou com a articulação de intelectuais e pensadores para festejar o jubileu da cidade (veja aqui). Porém, a classe artística local teme ser esquecida da festa. A professora Beatriz Salles, do Departamento de Música da Universidade de Brasília, liderou na semana passada um debate na Comissão Geral da Câmara Legislativa do Distrito Federal, juntamente com o Fórum de Cultura do DF e Entorno para garantir que os artistas locais tenham preferência nas festas dos 50 anos.

Em entrevista à UnB Agência, ela fala das demandas do Movimento Viva a Cultura da Capital, lançado pela UnB em parceria com o Fórum de Cultura do DF e a Frente Parlamentar Pró Cultura e Identidade. O grupo reivindica que os espetáculos de aniversário circulem por todas as cidades do DF, que todos os movimentos culturais participem da festa e que os pioneiros da cultura em Brasília sejam valorizados.

UnB Agência - O que é o Fórum de Cultura do DF?
Beatriz Salles - O Fórum foi criado em 2007, na intenção de articular as diferentes áreas e movimentos da cultura do DF em um só espaço, e fomentar a criação de outros. Juntos, tentamos viabilizar políticas de Estado que realmente atendam as demandas da cultura local. Nossa principal demanda é viabilizar a criação de um Sistema Distrital de Cultura e consideramos que fazer parte da comissão que vai decidir as festividades dos 50 anos de Brasília, em 2010, é o primeiro passo para discutirmos a cultura que queremos para nossa cidade. A Comissão do Fórum quer sentar à mesa de negociação e trazer as demandas da sociedade. Nosso foco é a criação de uma agenda pública permanente para a cultura do DF.

UnB Agência - E o que esta Comissão vai reivindicar?
Beatriz - Acreditamos que a festa deve priorizar os artistas locais e apresentações de todas as vertentes artísticas. Essa festa deveria circular por todas as cidades satélites e, por fim, culminar em uma grande festa na Esplanada dos Ministérios, se assim for o desejo do governo. Queremos uma festa do povo e com o povo, não somente uma festa para o povo. Se a verba disponível é de R$ 12,5 milhões, ótimo. Queremos sentar e discutir como esse dinheiro será gasto. . Também sugerimos à Câmara a criação de uma comissão especial permanente, onde por meio de audiências públicas temáticas, ouviriamos as demandas especificas de cada área, a fim de apresentar projeto de lei para um Sistema Distrital de Cultura. Isso sim seria um marco histórico.

UnB Agência - O que os artistas locais acharam da contratação da Xuxa para o aniversário de 49 anos?
Beatriz - Um desrespeito, vimos como uma ofensa. O vice-governador disse que Cláudia Leitte e Xuxa são a alma da cidade e nós não concordamos. Percebemos com isso que não há vontade de o governo tornar Brasília uma capital que valoriza o que é feito aqui. Cadê o recurso para fomentar a cultura do DF que leva o nome de Brasília nacional e internacionalmente? O governo vai pra Salvador e resolve importar o carnaval para a capital, mas o que ele esquece é que se hoje o carnaval baiano é exportado, isso veio de uma política de fomento à cultura local. Ao invés de importar o modelo de política cultural que viabilizou a inserção da Bahia no contexto nacional e internacional, eles copiam o projeto, que de forma nenhuma tem afinidade com a proposta de Brasília.

UnB Agência - Mas a festa não foi um sucesso?
Beatriz - Nosso problema não é com a escolha dos artistas de fora, mas com o esquecimento total dos locais. Nenhum artista da cidade se apresentou. E mais, eles pagam R$ 600 mil em um cachê que poderia viabilizar a sustentabilidade de 10 projetos socioeducativos por um ano. O que o governo não entende é que o investimento em projetos socioeducativos e culturais viabilizaria uma economia em segurança pública, em saúde, promovendo a justiça social e diminuindo a violência presente hoje em todos os segmentos e classes sociais.

UnB Agência - Os grandes artistas locais participam desta discussão?
Beatriz - Os Melhores do Mundo participam do Fórum e um dos membros do Capital Inicial também. Nossa intenção é fazer uma discussão com todos esses artistas. Entendemos que os que já ganharam espaço na grande mídia são fundamentais para abrir espaço para os outros. Os pioneiros como Neusa França, Palmerinda Donato e Athos Bulcão deveriam ser valorizados. A Fundação Athos Bulcão, despejada em 2008, espera até hoje por um novo espaço. A recuperação do Teatro Nacional, do Cine Brasília, do Cine Itapuã, do Centro de Cultura Popular da Ceilândia, também. Valorizar a cultura de Brasília também significa respeitar e cuidar dos espaços por onde ela circula.

Produzido pela Assessoria de Imprensa da UNB
http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=1679

2 comentários:

Romulo Andrade disse...

Apoiadíssimo. Muitos milhões gastos em segurança pública e todo aparato policial bem como na manutenção das penitenciárias pode ser poupado com um efetivo apoio ao movimento artístico-cultural entendido como um processo e não só como espetáculo. A cultura é sempre complementar à educação cidadã. É um absurdo o estado dos espaços culturais no DF: um exemplo é o da 508 Sul (onde tantos de nossos artistas se iniciou e tantos vem se aprimorando), reformado com recursos de uma fundação japonesa e entregue em 94. O que ficou para a Secretaria de Cultura fazer: isolamento acústico das salas, sistema de ar, som e iluminação até hoje - 15 anos depois, não foi priorizado. A mentalidade provinciana - tudo que é bom vem da metrópole, é de uma burrice e falta de visão constrangedora. Temos excelentes artistas aqui em todas as linguagens expressivas e que bem refletem a complexa diversidade cultural da cidade, ponto de convergência de todos os brasis. A qual Brasília você pertence?

Romulo, artista visual e educador

Agenda Pública: Brasília 50 anos disse...

Rômulo
Fique ligado!!!!!!!
A Conferência de Cultura do Distrito Federal terá como proposta número “1” , discutir a questão do orçamento para recuperação dos espaços culturais .
Aguarde novidades!